quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Um mundo novo - quando se tem um amigo


Olá a todos.
Hoje apeteceu-me escrever um pouco mais sobre isto da adopção e dos nossos amigos de quatro patas que partem antes de nós.
Na semana anterior somaram-se 3 meses sobre a partida do Davis e, claro, que me lembro sempre e tenho saudades do meu amigo nessa data. Contudo ele ficou para sempre por aqui e, às vezes, até quando estou com a Nucha ao colo, chego a falar-lhe dele a propósito das coisas que a ela são permitidas  - como ficar no sofá - e a ele nunca foram. Ele tinha o dobro do peso dela e  era muito diferente!
Quando o Davis era pequeno, li muito sobre os cães. Eu procurei muita informação porque ele não era um cão fácil e eu tive de aprender a lidar com a sua personalidade. Nesse sentido ele abriu a minha vida para um domínio de conhecimentos inteiramente novo, já para não falar do mundo de sensações e sentimentos onde ele me levou. A minha irmã deu-me vários livros, um deles era de  César Millan, "O Encantador de Cães", e nesse livro aprendi muito sobre as necessidades dos nossos amiguinhos de quatro patas e  sobre como deveríamos respeitar a sua natureza, no melhor sentido que a palavra possa ter, não os tratando como pessoas, mas como seres fabulosos dotados de capacidades, talentos, sentimentos e necessidades específicos.
Nesse livro, César falava também da necessidade do luto após a perda de um cão. Mais tarde vi um dos programas dele em que ele tinha sido chamado para ajudar uma família que, não suportando a perda do seu amigo canino, tinha ido buscar outro, mas tal era o sofrimento pela perda do anterior que só conseguiam projectar as suas aspirações no recém-chegado. Queriam-lhe muito, mas a relação estava completamente alterada, pois ninguém é igual a ninguém. César ajudou-os. Como sempre, e com o talento inexplicável que tem, diria mesmo com o seu dom especial, conseguiu explicar à família o que ela estava a fazer de errado, embora cheia de amor e carinho pelo recém chegado, e todos se reorganizaram. 
Adoptar, ou adquirir, outro amigo de quatro patas, após a morte de um amigo fiel, não é substituir. Nunca há substituição. O lugar de cada um permanece inalterado. Os espaços percorridos são os mesmos, mas diferentes porque quem os percorre é outra pessoa (a que perdeu um amigo e ganhou outro) e outro o animal (o que encontrou uma nova casa, uma nova amizade), e o resultado desta caminhada é necessariamente diferente.
Não podemos comparar no sentido em que dizemos, com pena, "O Davis fazia isto, e a Nucha não faz...que pena...".Podemos comparar e dizer " O Davis fazia isto e a Nucha é diferente, não faz." Ou ainda " A Nucha faz isto, o Davis não fazia." Isto está certo, na minha modesta opinião, isto é dar espaço para que cada um seja como é, e para que as memórias permaneçam e façam o seu papel.
Como sabem, não planeava ter outro canídeo tão cedo: queria trabalhar na APAFF,  associação de protecção animal daqui da Figueira, ajudar outros animais, mas não desejava ter um aqui  tão cedo. Achei que, como  César Millan tinha dito, precisava do " meu luto", eu e  o Gabriel teríamos de fazer o" nosso luto" e depois, talvez, pensar noutro bichinho.
A vida tem  o seu plano e tudo foi inverso ao que esperava: voluntariado na APAFF não pude fazer, adoptar a Nucha aconteceu inacreditavelmente cedo face à data em que tinha deixado o Davis a dormir no seu sossego merecido, mas que a mim me deixou tão triste.
Renunciar a "ter outro cão porque depois ele morre e temos pena e não queremos sofrer mais", como muitas pessoas dizem, será legítimo, quem sou eu para pôr isso em causa? Mas arriscar "ter outro cão" é arriscar a entrada num mudo novo, em que já conhecemos alguma coisa e podemos descobrir coisas novas, emendar erros, enfim, prosseguir e viver.
A verdade é que quando se vai  buscar outro amiguinho patudo, se renasce, se continua a viver  e a amar, estando nós enriquecidos com as experiências anteriores; elas são ponto de referência, são base de conhecimentos, e depois há um mudo desconhecido que vamos descobrir.
Adoptar ou adquirir outro animal  não é substituir - é continuar a dar o que já se deu  e mostrar a quem já partiu e a nós mesmos que valeu tanto a pena que o nosso coração não pode fechar-se e não continuar a amar e ser amado.
Neste blogue tenho-me focado na adopção. Embora o Davis tenha sido comprado apenas com dois meses numa loja de animais, e eu entenda que uma cria é adorável -  se é! - face à realidade do nosso tempo, a adopção é um caminho cheio de benefícios para todos. E podem adoptar-se crias também pois infelizmente não faltam cachorrinhos abandonados a precisarem de lares.
Adoptar é dar uma hipótese a um ser que vai retribuir  ao máximo tudo o que lhe for dado e, como fui abençoada com uma senior que se integrou tão bem, só posso deixar o meu testemunho vivo e sólido de que adoptar um senior é possível,  é mais fácil do que parece, e é absolutamente recompensador.
O meu Davis  será sempre  "o amigo da mãe" - sim, porque na altura em que ele veio para cá, o Gabriel era muito pequenino, e era mais fácil falar na "mãe". O termo "dona" nunca entrou na nossa relação, pois não era funcional para todos. "Vai à mãe, Davis. Onde está a mãe?" - dizia e perguntava o Gabriel ainda pequerrucho, e o Davis lá vinha ter comigo. Tomava café com ele na varanda, sentados, de pés e patas ao sol e cabeça à sombra, sentados ao lado um do outro. Ele já sabia. Via-me a preparar o café e eu convidava-o: "Vens beber café com a mãe?" Ele adiantava-se, e tomava o seu lugar. Quando eu chegava com a chávena de café, bem preto e a escaldar, ele - que nunca se queimou por eu entornar café -  chegava-se para o lado para eu ter sítio e ali ficávamos. Às vezes levava duas bolachas Maria: uma para ele e uma para mim. Assim o ensinei a comer "a sua" e a respeitar "a minha" e ele, que se quisesse não teria dificuldade em tirar-me a minha da mão, aceitava  e ali me fazia companhia.
A Nucha é companheira, de uma maneira diferente: é a que pede colo, maçã, é a companheira  da doença (como também já o foi o Davis), da mesa até! Que privilégio! Agora temos uma "área de segurança"  na mesa: a um palmo para dentro é que colocamos pratos e talheres! Sim, porque pata de cão na mesa, mesmo de senior, é sempre pata de cão que anda na rua!!!!
E assim, amigos, termino - hoje esta postagem está muito sentimental, desculpem. 
Foi, de certa forma, a minha maneira de dizer que o Davis continua sempre comigo e connosco, e que todos os patudinhos ficam com os seus donos apesar de partirem, e que, creiam, não estamos a traí-los se aconchegarmos outros nas camas que foram deles, e que podemos dar e continuar a dar e a receber, sem medo, que a vida prossegue, que a adopção é um bom caminho e que todos merecemos uma oportunidade ou mais do que uma até. 
Este sábado fará três meses que temos a Nucha connosco! Vamos pensar ainda numa surpresa para a "minha velhota",como eu dizia quando a fui buscar. A verdade é  que ela parece cada vez menos idosa e cada vez mais jovem! E nós todos adoramos essa transformação,embora não nos esqueçamos de que são 16 anos em cima daquelas patinhas! Até breve.

5 comentários:

  1. Que lindo relato sobre a adoção da Nucha e os momentos inesquecíveis com Davis!
    Realmente, nenhum cão é insubstituível, cada um que entra em nossa vida ocupa um lugar só dele...
    Beijos e parabéns pela emocionante postagem!

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  2. Que post mais lindo e emocionado! Eu perdi a minha Rutha há quase 5 meses e sei a falta que ela me faz! Como eu já tinha outros peludos em casa percebi que isso me ajudou muito mas a tristeza ainda é grande. Eu acho que é preciso passar pelo luto e adotar assim que possível para que a casa não fique muito vazia porque fica muito triste. A Nuncha teve muita sorte e amor e o Davis também!
    Beijos
    Laís

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  3. Que lindas palavras!!!...Ver um amigo partir é muito difícil, eu também adotei a Nikita após 4 meses da partida de minha Pitcha amada. Eu sentia tanta falta dela que não aguentei mais esperar e quando vi a carinha linda da Nikita no site para adoção, não resisti. Jamais esquecerei da minha Pitcha, tão linda, com suas manias mas, ter a Nikita comigo preenche esse vazio.
    A Nucha com certeza é uma excelente companheira, amada e protegida por vocês, ela é feliz. Mais uma vez lhes falo, parabéns pela adoção de uma velhinha, ela está tendo uma velhice merecida ao lado de vocês.

    Bjs, Néia

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  4. Perder um companheirinho é muito dolorido e suas palavras demonstram todo o amor por ele e pela nova amiga. Adotar é um ato de amor. Claro que não exite substituição pois cada um amamos de um jeito e de forma única.
    Lindas palavras do seu texto.
    beijos

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Decerto teremos mais novidades da Nucha quando regressar a este blogue para nos visitar! Até lá, e, se puder, apoie e promova a causa da adopção de animais abandonados!